terça-feira, 11 de novembro de 2008

nosso último jantar

- eu te convidei pra vir aqui hoje, não que eu quisesse que fosse um fim planejado, da melhor fora
- nada de gran finale, tu sabe que eu não sou chegado nisso, nesses teatros
- na real, eu resolvi cozinhar, fazer essa comida pra gente, comprar esse vinho que eu gosto e que sei que tu gosta pra que fosse bom
- por mais que eu tenha decidido que a gente não tem que se ver mais, não foi um fim programado
- porque sempre foi tão bom a gente junto, tu sabe disso
- e é exatamente por isso que tu me procura, até hoje
- e é por isso que eu nunca reclamei, por isso que aceitei essa condição de amante
- hehehe, justo eu, que sempre fui contra isso, que sempre defendi todas aquelas posições
- não, não tô te cobrando nada, só tô conversando
- porque, entre nossos porres, nossas conversas e o sexo, eu acabei te conhecendo
- e não precisa muito pra descobrir que tu quer uma certeza
- e isso tu já tem
- eu sou a incógnita disso tudo
- melhor que certeza, tu quer segurança
- e isso ele te dá
- não, não quero discutir nada
- e vamos parar de falar sobre isso
- eu já tinha te dito que não era despedida
- mesmo que seja
- é claro que quando tu for embora e a porta já estiver fechada, vai ser diferente
- e eu, e tu, nós saberemos que chegou ao fim
- talvez eu tome um remédio e durma
- talvez
- talvez chore, o que seria ótimo
- mas talvez eu finja que é melhor assim
- e só sinta tudo forte no outro dia
- vamos parar de falar sobre isso
- desculpa
- só vai embora, como se fosse mais uma das vezes que tu me deixou e agüentei duro no osso
- sozinho, quieto
- vai, me abraça, me beija como de todas as outras vezes
- eu não vou falar mais nada
- vai lá, te cuida

(estou sozinho)

sim, foi um fim

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