segunda-feira, 2 de junho de 2014

sua mão em mim

das manias que tenho
a que mais me ajuda
- e que aos poucos me mata -
é essa de não dar a devida atenção

e no meio dessa mania
e em meio a essa minha ignorância
vem você e me estende a mão

mesmo com meus preconceitos
mesmo com minha soberba
mesmo comigo sendo eu, sempre dizendo não

e por eu ser eu
por não estar preparado para tua mão
é que fico assim

mesmo sabendo que você, sem mim
vai continuar sendo assim
embora eu, sem você
agora esteja assim:

ralinho
tateando
buscando um caminho qualquer
com você e a sua mão em mim

domingo, 20 de outubro de 2013

Divagações em um dia triste para tentar sobreviver

Hey, moço, hoje o dia foi barra, daí lembrei de ti. Hey, moço, cadê tu, que me faz tão melhor? Que saudades tuas. Que vida essa que tá com pouco sentido. E, assim, quando não faz sentido, por que lembro de ti? Quando tu lembra em mim? Será que lembra? Seria você o sentido final da minha vida. Espero que não. Seria tipo suicídio. Ainda não é hora do fim.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

doente

penso em todos vocês
mas penso mais em ti

e na sopa que eu imagino que tu prepraria pra mim, hoje à noite
caso houvesse amor

porque
caso houvesse amor
tu não negaria uma canja de galinha qualquer
mesmo que tu tenha de atravessar a cidade
e passar no mercado

e me ver assim
dum jeito que tu não me ama

veja bem
e não te julgo
você é daqueles que ama mais na alegria

e assim escondo minha tristeza
finjo que é só um resfriado
que vai passar
que não te preocupe
e forço um sorriso - eu minto

e você abre outro
e pensa, que bom
que otimismo desse loiro

e daí tu vai
e toma teu rumo
que tem que acordar cedo

e eu, sozinho

coloco o disco na vitrola
e não penso mais em você
e esqueço de te querer

poesia da alegria na doença
algum sentido?

sexta-feira, 18 de março de 2011

Sinto tua falta, baby

"É sempre assim
Quando estou triste
Lembro de você"


Nunca fomos tristes juntos, certo? Talvez não importe tanto quanto pra mim. Mas escuta aqui, é de você que lembro quando não há mais esperanças. É de ver você numa hora qualquer, numa quinta qualquer, e te ver festejar a minha presença. E daí não entendo, porque meu corpo, o mesmo que entende e sabe funcionar na maior parte do tempo como deve, me engana e dá sinais de que você, naquela hora, me ama.

Não se culpe por não largar tudo e vir me amar. Você sai do mundo e encontra a loucura comigo, e nada mais justo do que manter padrões, agir corretamente e seguir a vida certa, dentro do possível. Porque só assim os beijos no final da noite, cheios de culpa e de dentes vão fazer sentido. E os suspiros típicos de quem faz algo proibido serão como benção (só pra mim, é claro).

E, no final das contas, sobra eu aqui, nessa minha tristeza sem fim. Não te espero, fique tranquilo. Lembro de você porque estou no pior de mim. E nessas horas, só o álcool para me acalmar.

"Como um vício qualquer
Um surto de momento
Um pouco da sua miséria: é o que preciso"

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Meu pai me viu naquele quadro

O desenho eu comprei em uma feira de Berlim. Num desses lugares sem destaque nos guias turísticos. Na real, não sei como fui parar lá. Digo isso porque não quero que você pense que eu sou tão cool assim. Do tipo que sabe os lugares especiais onde ir nas férias. Não me ponha o rótulo de descolado. Não sou.

Esses dias meu pai foi lá em casa e me perguntou: quem fez aquela caricatura tua? Não era caricatura. Mas eu estou lá, naquele desenho, emoldurado na parede do meu quarto. Os joelhos semi-dobrados, como se eu pudesse cair a qualquer momento. As mãos no meio das pernas, demonstrando insegurança, medo, receio. Ou apenas representando aquelas raras horas em que fico sem jeito, poucos sabem, tem a ver com paixão.

A figura e seus olhos marejados, com uma lágrima que insiste em ficar por ali e nunca cai. Os olhos esbugalhados, impressionados. Não com o que vê, mas com o que sente. Porque faz tempo que não me impressiono com paisagens, museus, praias.

A última vez que uma visão me transformou faz muito tempo, mais de dez anos. Em Madri. Primeiro, as árvores secas que vi no trajeto de táxi ao centro da cidade. Depois, o Parque del Retiro. Lá, sim, foi diferente.

Me sentei, abandonado, como sempre, no fundo, estive. E observei os negros imigrantes cantando, batucando. Se não me engano, me arrepiei. Hoje, arrepios, só no cinema, com filme muito bom. E ali fiquei até o sol se pôr. Um pouco mais, anoiteceu, e ninguém me ofereceu drogas ou quis conversa. Na melhor das hipóteses, eles me viam como um deles. Na pior, simplemente me desprezavam. Tanto faz.

Me contaram esses dias que expulsaram os imigrantes de lá. Que não há sinal mais deles no parque. Nunca mais volto àquele lugar. Porque não quero que essas lembranças se tornem como um filme lindo que você vê pela segunda vez e se dá conta de que não é tão bom assim. Não quero mais esse tipo de decepção.

Insisto que não quero. Me deixe com esse deslumbramento, ao menos. Não me incomode, por favor. Quer me conhecer de verdade? Olhe aquele quadro, como o meu pai o fez e me definiu: uma caricatura. Triste, de joelhos semi-flexionados, mas que, por enquanto, ainda não caiu.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

você se foi

e nunca esperei que fosse diferente

chegou, se anunciou, e eu te tratei como quem vai

é assim, você sabe, o preço que se paga

nessas noites quentes, no meu quarto quente

é vir e ir

assim mesmo

mas, você ficou

seu perfume ficou em mim

e não paro de pensar:

quanto tempo dura?

enfim, cansado de tudo isso que não é feito pra ficar

sexta-feira, 11 de junho de 2010

então

depois de tanto tempo
hoje pensei em você

que coisa

sim, era você
melhor agora (sem mim)

que coisa

e daí, me pergunto: por quê? (porque não)
não fomos felizes? (sim, e daí?)

que coisa

nunca fomos infelizes juntos
eu sempre aguentei tudo sozinho

que coisa

pensar em você agora
é pensar que você...